Entenda melhor o conceito, alinhado à economia circular, e veja exemplos de iniciativas no setor privado que endereçam a proposta.
Na série Glossário, que se inicia hoje aqui no canal Net Zero, explicamos termos e expressões relacionados ao mundo da sustentabilidade. É um glossário importante para quem transita por essas áreas. O de hoje é… aterro zero.
Como surgiu o termo aterro zero?
Por mais que hoje muito se fale sobre resíduo zero, o conceito de aterro zero surgiu na comunidade internacional na década de 1970 – no inglês, o termo é “zero waste”. A proposta, desde então, é engajar cidadãos, comunidades, setores público e privado na gestão adequada dos resíduos.
A proposta nasceu com a Aliança Internacional Zero Waste (ZWIA), que acredita que a tecnologia e os métodos necessários para atingir o aterro zero existem em todas as comunidades ao redor do mundo.
Sua missão, aliás, é conectar interessados a pessoas que podem fornecer modelos, projetos, pessoas e os meios necessários para ajudar no desenvolvimento do “zero waste” como objetivo final.
E o que é aterro zero exatamente?
A definição de aterro zero, de acordo com a ZWIA, é a seguinte:
“É a conservação de todos os recursos por meio da produção, consumo, reutilização e recuperação responsáveis de produtos, embalagens e materiais sem queima e sem descartes na terra, na água ou no ar que ameacem o meio ambiente ou a saúde humana.”
Em essência, o conceito é o de desperdício zero, que visa incentivar uma abordagem mais circular da maneira como usamos os recursos. Em um nível mais básico, isso significa que a meta do aterro zero é levar as economias para o grande objetivo de não enviar resíduos para aterros, incineradores e oceanos.
No entanto, embora a reciclagem e o gerenciamento consciente de resíduos sigam sendo essenciais para atingir esse objetivo, o aterro zero vai muito além de simplesmente lidar com resíduos no fim de sua vida.
A proposta, na verdade, consiste em examinar todo o ciclo de vida de um produto ou material, identificando ineficiências e práticas insustentáveis de produção e consumo.
Então, aterro zero refere-se não apenas a manter os resíduos fora dos aterros, mas também a impulsionar as economias a terem menos desperdício na produção e no consumo.
O aterro zero é realista?
O avanço da economia circular está aí para provar que, sim, o conceito do aterro zero é realista. E vale lembrar que a proposta de desperdício zero não é apenas um objetivo final, mas um conjunto de princípios orientadores que buscam eliminar o desperdício em todas e quaisquer etapas da cadeia. Da extração de recursos até a produção, o consumo e o gerenciamento de materiais descartados, o objetivo é fechar o ciclo, redefinindo todo o conceito de resíduos e garantindo que os recursos permaneçam em uso pelo maior tempo possível antes de serem devolvidos à terra com pouco ou nenhum impacto ambiental.
Qual é a diferença entre aterro zero e reciclagem?
Uma distinção importante entre o aterro zero e a gestão e reciclagem de resíduos convencionais é a prevenção de práticas de desperdício desde o início da cadeia. É a diferença entre o modelo linear de produção, que começa com a extração de recursos, passa pela fabricação e vê os produtos acabarem em aterros sanitários, e o modelo da economia circular, que minimiza o desperdício e mantém os recursos em uso pelo maior tempo possível. Considerado um “circuito fechado” que promove a sustentabilidade e busca o desperdício zero por meio da redução, reutilização e reciclagem.
Exemplos de uma política de aterro zero
Exemplos de como isso funciona na prática já são vistos em algumas grandes empresas. Em 2016, mais de cinco anos atrás, portanto, a multinacional britânica Unilever anunciou que mais de 600 instalações da companhia em todo o mundo zeraram o envio de resíduos não perigosos a aterros.
Hoje, afirma a empresa, mais de dois terços de seus resíduos de produção são de fontes biológicas (como lodo de águas residuais e resíduos de alimentos não comestíveis).
Já onde o resíduo é inevitável, a empresa diz procurar extrair valor desse fluxo, encontrando oportunidades de reutilização pelo processamento de biomateriais, por exemplo, ou reciclagem e recuperação em novos produtos, como a captura de biogás por digestão anaeróbica ou compostagem de volta ao uso agrícola. Desde 2008, a redução no descarte de resíduos por tonelada de produção chega a 96%.
A brasileira JBS também tem iniciativas do tipo. Recentemente, a companhia anunciou o início de sua produção 100% nacional de fertilizantes, resultado de um estudo que começou em 2016 para identificar como fazer o melhor aproveitamento de resíduos das operações.
A Campo Forte Fertilizantes, que terá capacidade para fabricar 150 mil toneladas por ano em produtos, produzirá uma linha completa de fertilizantes orgânicos, organominerais e especiais a partir do aproveitamento de resíduos orgânicos e matérias-primas minerais, resultados de um alto investimento em inovação.
Ao usar como matéria-prima 25% do resíduo orgânico gerado pelas operações da JBS, a nova empresa garante uma destinação correta e um menor impacto ambiental para esses insumos. O novo negócio está alinhado ao compromisso Net Zero 2040 da JBS de zerar o balanço líquido das suas emissões de gases causadores do efeito estufa, considerando toda a sua cadeia de valor.
Fonte: Exame